terça-feira, 7 de maio de 2013

Impermanências, de Marielen Baldissera

  • Espaço de Artes da UFCSPA - Rua Sarmento Leite, 245
  • Impermanências, de Marielen Baldissera
    Em suas teses Sobre o conceito de História, Walter Benjamin nos faz pensar a respeito das tessituras do trabalho do historiador. Sublinha a diferença entre a ideia de uma história como ela realmente foi e a força criativa e evocativa da história como trabalho de memória. O historiador benjaminiano deveria "apropriar-se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um perigo", valendo-se assim da historicidade para meditar sobre o tempo presente.
    Em um momento no qual procuramos criar formas de nos reapropriarmos da cidade, Impermanências, de Marielen Baldissera, leva-nos a pensar em uma espécie de contra-história da cidade de Porto Alegre. Suas fotografias desvelam as ruínas de uma cidade que existiu e que se pode entrever por meio dos rastros que ainda conseguimos perseguir. 
    Ao conceber o seu trabalho, Marielen perscrutou espaços marcados pelo abandono e que, apesar disso, sobrevivem, mesmo que já tenham perdido há muito a sua função original, sendo hoje rastros que nos autorizam a evocar memórias sobre a cidade. Nesses espaços carregados de marcas que nos fazem pensar sobre a passagem do tempo, Marielen fotografou bailarinas, cujas imagens foram capturadas com um longo tempo de exposição, permitindo-nos ver o seu deslocamento, a sua sombra, quase como uma fantasmagoria que se inscreve contra o fundo.
    Todas as fotografias que podemos apreciar nesta exposição foram realizadas ao longo do ano de 2012. São fotografias encenadas que buscam, a partir do uso da longa exposição, capturar o movimento de um passo de dança, levando-nos imediatamente a pensar na passagem do tempo. Na ruína e no instante.
    O movimento das bailarinas, conduzidas com cuidado e inteligência por Marielen Baldissera, lembra-nos que ainda é possível entrever, em meio aos fragmentos do que um dia foi a cidade de Porto Alegre, uma lufada de vida. Os movimentos tênues, delicados, quase uma fantasmagoria, captados por Marielen contra o fundo carregado de historicidade das ruínas dessa cidade que não é, são como a vida. Breve e passageira. Impermanente.

    Éder Silveira 
    Doutor em História pela UFRGS e professor na UFCSPA

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