sexta-feira, 15 de julho de 2016

É HOJE: TURMOIL, Pablo Ferretti, abertura 19h30


 

 

 

PABLO FERRETTI

 

TURMOIL

 

"Coming events cast their shadow before"

Thomas Campbell

 

A imprevisibilidade do futuro envolve o tempo presente em uma atmosfera nebulosa, cujos contornos indefinidos tão-somente nos permitem especular sobre o que está por vir. Diante da aporia generalizada que vem solapar paradigmas filosóficos, científicos e projetos políticos, encontramo-nos em águas turbulentas, em compasso de espera, incapazes de divisar novos rumos para a humanidade que não sejam precários, provisórios. Vivemos em meio à escuridão do presente (Giorgio Agamber).

Se o ano de 1989, com a queda do muro de Berlim, sinalizou o colapso do pensamento utópico, o que experimentamos desde então, na contemporaneidade, é a relação com uma nova temporalidade, a qual faz demandas ao passado, mediante a revisão histórica, e ao futuro, ensejando a construção de cenários distópicos ou apocalípticos. Neste contexto, de acordo com Pierre Nora, vivemos o medo de um rápido e final desaparecimento, combinado à ansiedade na busca de sentido no presente e a incerteza sobre o futuro".

A obra de Pablo Ferretti é dotada da mesma plasticidade que caracteriza os tempos futuros. Nada é evidente em suas pinturas, tudo é difuso, ora parece desenhar-se com clareza, ora parece evanescer-se diante de nossos olhos. A busca por uma imagem quase abstrata, que caracterizou boa parte da produção recente do artista, agora abre espaço para uma nova pesquisa que abandona por completo aquilo que restava de figurativo em suas telas. São paisagens desconhecidas, inomináveis, imagens mentais poluídas, dotadas da mesma carga de mistério que constitui o mundo pouco acessível do inconsciente; são imagens que tanto remetem à história da pintura - mais particularmente aos esforços de Turner em capturar o estado gasoso dos céus da Inglaterra - quanto às limitações impostas pelos cinco sentidos dos quais a natureza humana foi dotada.

A pintura tradicional, até então, sempre representara os céus e os mares como formas sólidas, muito embora seus elementos constitutivos ganhassem essa aparência muito em função de nossa distorcida percepção da realidade e das forças da natureza. Aliás, o condicionamento quase absoluto do homem ocidental ao sentido da visão fez como que a "realidade" se nos apresentasse como bidimensional, coisa que não é, uma vez que vivemos em contextos tão orgânicos quanto dinâmicos, nos quais um conjunto de fenômenos concorrem para produzir suas causas e efeitos. Quando diante do mar revolto, a observar no horizonte uma tormenta, por exemplo, é possível que estejamos prestes a sofrer as consequências não só da precipitação atmosférica, mas também de outros fenômenos vizinhos, como o de um incêndio que se inflama às nossas costas, a apenas alguns metros de distância, do qual recebemos informações auditivas e olfativas, mas não visuais. Embora não vejamos as labaredas, logo concluímos o que se passa pelo calor em nossa pele, pelo som das fagulhas que chegam aos nossos ouvidos, ou pelo cheiro da mata queimando.

Se a visão constitui nossa principal ferramenta para acessar o mundo, ela não só compartimenta a experiência fenomenológica como também nos leva a entender o que chamamos realidade de uma forma bastante reducionista. E a obra de Ferretti se constrói justamente nesse espaço, entre o visível e o perceptível, entre o racional e o intuitivo, entre a abstração e a figuração, entre o passado e o futuro.

Assim como os fenômenos naturais são usados como figuras de linguagem para a descrição de ambientes políticos - a atmosfera explosiva de uma manifestação nas ruas, o clima tenso em um debate político -, também as pinturas do artista podem funcionar como expressão visual para um conjunto de experiências e sensações pouco passíveis de serem traduzidas com clareza e objetividade.

As telas à óleo reunidas nesta exposição são investidas da força e da violência que embalam a natureza humana neste estágio acelerado de transformações políticas, científicas e climáticas, mas também carregadas das pulsões afetivas e psíquicas que fragilizam o sujeito moderno, tão distante de sua natureza humana, tão cético quanto à sua ambicionada racionalidade. Suas luzes e sombras alternam-se como num céu relampejando, lapsos que nos permitem entrever o futuro envolto em uma aura de agonia e misticismo.  

As zonas de escuridão que permeiam o conjunto de pinturas na Galeria Mamute estão impregnadas de dúvida, de incerteza e de mistério. Os vermelhos densos e profundos - para Ingmar Bergman, esta era a cor da alma humana -, bem como os azuis noturnos, trazem à tona nossos mais recônditos sentimentos, como fantasmas que anuviam a alma, como premonições que nos tiram o sono, como flashes de uma guerra interior cujos respingos de sangue nublam nossa visão.

 

Bernardo José de Souza

curador da mostra

 

Serviço

Abertura: 15 de julho, sexta-feira, 19h30

Visitação: 18 de julho a 28 de outubro de 2016

 

Galeria de Arte Mamute

Caldas Júnior, 375. Centro Histórico. Porto Alegre.

Estacionamento conveniado em frente à galeria.

www.galeriamamute.com.br

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