quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Convite Rogério Rauber






O bagaço da pintura: para uma pintura fora da pintura
 
No renascimento, uma das soluções encontradas para viabilizar o transporte das imagens planares foi o advento do suporte móvel da imagem tal como o conhecemos ainda hoje: a tela em tecido aplicada sobre um chassi de madeira. Desde então, este vem sendo o suporte tradicional daquilo que convencionamos chamar de pintura. Com a entrada de novas tecnologias de produção de imagens, na atualidade, a condição do quadro muda radicalmente. O que conhecíamos como pintura agora ultrapassou as paredes dos palácios burgueses, habitando, também, o nosso cotidiano, em múltiplas e variadas formas de suportes. Este contexto, que envolve a tradição da pintura e sua expansão para além dos limites deste conhecimento, é o lugar onde iremos nos situar para abordar as imagens produzidas para esta exposição.
 
Rogério Rauber investiga, em última instância, um viés escatológico da pintura. Construir configurações com materiais que parecem ter se originado de um quadro destroçado, picado, esmagado e torcido, um autêntico bagaço de pintura, equivale subjetivamente, neste caso, a um gesto desesperado e consciente do artista, diante das limitações e implicações que o fazer pictórico suscita atualmente com sua carga semântica, posto que a pintura seria algo já cristalizado como linguagem no sistema de arte. Daí, a ideia de limitação da pintura e, consequentemente, do enfrentamento que percebemos como resposta do artista. Inconformado com a suposta finitude deste meio expressivo, Rauber expande e ultrapassa o campo linguístico da pintura, tradicionalmente delimitado por um repertório gramatical já muito bem conhecido e estabelecido. Sua experimentação, que transita pela materialidade e disposição espacial dos destroços do quadro, amplia os recursos gramaticais desta linguagem planar, trazendo novas informações e possibilidades oriundas deste trabalho, que parte do grau zero do "bagaço da pintura", rumo a um novo começo.
 
Ao percorrermos a exposição deste artista, torna-se evidente uma inclinação deliberada que se orienta para além dos limites da pintura. Ou seja, o que vemos são experiências que transbordam as fronteiras da pintura que já conhecemos. Tais experimentos resultam em presenças visuais que trazem novas imbricações da pintura com outros meios expressivos. Rogério Rauber, em suas imagens, encontra-se fazendo algo que, a princípio, não é pintura, mas acaba sempre remetendo a esta origem. Vestígios formais e processuais, tais como matéria, cor e frontalidade, acabam sempre nos encaminhando para uma noção de pintura que usa alguns elementos da sua tradição. Mas, certamente, estas imagens encontram-se fora dos suportes convencionais. O que vemos é uma pintura fora da pintura.
 
João Wesley de Souza
Setembro de 2012
Mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ e Doutorando em Linguagens e Poéticas da Arte Contemporânea pela UGR, Espanha





 



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