terça-feira, 28 de setembro de 2010

Exposição de Alê Souto, Raimundo Rodriguez e Marcio Zardo na Galeria Espaço Imaginário



---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Galeria Espaço Imaginário <galeriaimaginario@gmail.com>
Data: 19 de setembro de 2010 14:27
Assunto: Exposição de Alê Souto, Raimundo Rodriguez e Marcio Zardo na Galeria Espaço Imaginário
Para: telasgaudi@gmail.com


A Galeria Espaço Imaginário recebe a partir de 20 de setembro as exposições "Eterno Labirinto" de Raimundo Rodriguez, "Se eu tivesse uma casa o varal dela seria assim!" de Alê Souto e "Pronta para Consumo" de Marcio Zardo.


Serviço:

Abertura das exposições: 20 de setembro de 2010, às 19 horas.
Visitação: até 13 de outubro, de segunda à sexta, das 11 às 21 horas.
Entrada Franca
Classificação Livre

Endereço:

Galeria Espaço Imaginário
Av. Gomes Freire, 457. Lapa, Rio de Janeiro
Mais informações: (21) 98021848 / (21 )39716812

No labirinto tropical, somos todos Teseu.
Dentro do caos urbano, vias se multiplicam e se cruzam, formando um emaranhado de
sons e caminhos que levam a lugar nenhum. Luzes artificiais cegam gradativamente e
hipnotizam com a mesma velocidade com que estimulam cérebros viciados, ávidos por mais e
mais estímulos. Imersos cotidianamente em uma ambiência entrópica, a espetacularização
dos objetos leva a "coisificação" das relações humanas. Estamos em um labirinto. E não
temos escolhas.
A tautologia do dia-a-dia, as facilidades da vida moderna, a meta do desperdício nas
políticas econômicas, as guerras inventadas, a banalização da vida, o lucro infinito. Esses são
os tijolos das paredes do labirinto citadino.
Mas, esta é apenas uma experiência labiríntica entre tantas. E existem tantas quanto
existem pessoas no mundo.
O artista plástico Raimundo Rodriguez, tece uma trama complexa e nos convida a trilhar
um caminho incerto, crítico e vertiginoso. A construção do seu "Eterno Labirinto" é a
materialização de suas próprias vivências, de um imaginário oculto, de um ciclo de vida e
morte.
Adentramos um espaço fantástico onde as paredes, saturadas com imagens, em toda a
sua extensão, murmuram simultaneamente orações, segredos, desejos velados, confissões,
poesias, medos, traições, canções de crianças, etc. Incontáveis são os pensamentos
cristalizados nas paredes de três metros de altura, revestidas com madeira antiga e
empoeirada, protegidas pelo verniz que lhes confere um tom rústico e sombrio.
Ao contemplar as paredes imponentes que transmitem uma sensação claustrofóbica é
possível ouvir as vozes, já sem tantos ruídos, e automaticamente entender que elas
pertencem a homens, mulheres e crianças de toda parte, compartilhando seus regionalismos,
traduzidas por sua fala e seus diversos sotaques.
O percurso continua. A iluminação é Barroca e o sentimento também. Neste labirinto
fantasmagórico somos transportados também para dentro de uma época pretérita. Há uma
memória Colonial que reveste subjetivamente as paredes, dos pregos aos materiais
descartados do dia-a-dia, e que nos separa da realidade do mundo exterior. Estamos dentro
do Labirinto. Dentro de uma visão que a cada passo se multiplica e se torna universal, que a
cada palavra e em alguma palavra se torna a nossa visão. Ao final de um corredor nos
deparamos com o inevitável. O fim de todos os ciclos. A visão da morte nos choca. Após o
choque a constatação: "é a morte alheia". E alheios ao inevitável, ignoramos uma tradição,
uma prática, uma crença nordestina, como tantas outras que fortificam as paredes robustas,
materializada pelas fotografias. São documentos que não falam, nem murmuram como as
paredes – eles gritam. E desse grito interior faz-se um silêncio. Mas, é preciso prosseguir, é
preciso encontrar uma saída desse labirinto. É preciso escapar ao terror de confrontar aquilo
que não queremos ver, nem pensar, nem sentir. Somos guiados por vozes e conduzidos
instintivamente até outro ambiente. E então, o silêncio sepulcral se quebra e a passagem pela
câmara mortuária chega a seu fim. Vemos outra cena menos densa e mais iluminada.
Estamos em outra câmara, e subitamente voltamos a ser criança.
15/09/10
Renata Gesomino.
Doutoranda pelo PPGAV-UFRJ na linha de pesquisa de história e crítica da arte.

Este trabalho tem como referência a obra de Arthur Bispo do Rosário (É
assim que eu devo fazer o muro no fundo da minha casa) sempre pensei
muito na possibilidade de falar de um lugar que não existe, neste caso o
ícone casa, que me remete a temas como pertencimento e proteção.
Variados sentimentos estão interligados a idéia de casa. Bispo cria um muro
imaginário a partir de uma "idéia" de casa, utilizando apenas um fragmento do
muro dos fundos feito de madeira, cimento e vidro. Uma idéia extremamente
utópica, já que vivia em um instituto manicomial e estava confinado a este
espaço. Neste trabalho utilizo roupas pra falar da idéia de casa passando por
outro ícone; o varal. Esta linha fina e simples que pode ser feita de nailon,
algodão ou fitilho de embrulhar pacotes, amarrado na grade da janela ou na
varanda, onde tiver um preguinho de bobeira. Nossas roupas estão ali
dependuradas, secando devagar, impregnadas de nossas vidas e presenças.
Nosas roupas dizem muito do que somos, nossas preferências, estilo,
gosto, cores, formatos, assimetrias. Ao longo dos últimos 3 anos o universo
da indumentária esteve presente em minha vida, na convivência diária com
uma estilista. Desta experiência comecei a prestar mais atenção e valorizar
as peças de vestuário, suas características antropológicas e estéticas, a
utilização da roupa como uma segunda epiderme e toda sua função na
afirmação de identidade de um indivíduo. A fusão entre moda e arte estão
hoje muito presentes em minha vida através desta parceria tão forte e de
tanto tempo, me sinto em um momento de integrar todas estas linguagens em
busca de outras possibilidades em meu trabalho porém quando digo Se eu
tivesse uma casa o varal dela seria assim estou para além de qualquer
especulação que vem da arte ou moda, falo de condições existenciais como
ter um espaço seu e suas roupas compradas dentro de sua escolha pessoal,
cultural e étnica.
Como Bispo penso em um lugar que não existe ainda, mas que é
totalmente possível, esse meu varal e as pinturas mostradas aqui exibidas
estão dentro desta casa imaginária que é minha obra impregnada de diversas
experiências vividas, sentimentos, imagens. Uma casa multicolorida onde um
tênue varal branco mostra apenas em imagens de contornos roupas que já
tive ou que tenho vontade de ter e algumas que trago guardadas na memória,
elas me fazem sentir mais bonito ou mais pronto para o dia a dia.
esta exposição é dedicada a Joanna Barros
e sua contribuição essencial em minha obra.
Alê Souto

"Pronta para Consumo" é o nome dado pelo artista plástico Marcio Zardo,
para sua exposição no Espaço Imaginário que inaugura no dia 20 de Setembro,
com direito a uma performance do artista.
De forma irônica, mas não menos reflexiva, Zardo pretende retirar o público
da condição de passivo observador, na medida em que propõe uma série de
trabalhos onde a repetição de palavras e frases, muitas vezes aparentemente
desconexas, redireciona a atenção do público para questões fundamentais
ligadas a nossa sociedade de consumo.
Procurando uma aproximação com o próprio espaço oferecido pela galeria,
com suas paredes rústicas, o artista instala o seu trabalho construindo varais. A
partir desses varais são pendurados cerca de 40 cartazes de papel Kraft,
contendo palavras soltas e frases incompletas, escritas com tinta automotiva em
spray, que evocam um muralismo urbano.
Para ler é preciso "penetrar" na obra de Zardo. Os cartazes que preenchem o
espaço da galeria estão dispostos de forma desordenada, quebrando certas
verticalidades e horizontalidades, exibindo-se para o observador de maneira
implacável. Frente e verso, o que se vê é um conjunto de palavras que atingem
os sentidos antes de atingir ao pensamento.
A multidão de cartazes, suspensa no ar por pequenos pregadores, forma um
complexo jogo de palavras, onde a intenção do artista, ora explícita, ora velada,
confunde mais do que esclarece.
As palavras revelam menos que instigam. Marcio Zardo desenvolve em seu
trabalho, o que se poderia chamar de "ecos gráficos". São ecos no momento em
que partem também de um desejo de alcançar o poder sonoro das palavras
faladas, e são gráficos, porque em seu contexto material, as palavras escritas
juntamente com a técnica aplicada, dão o corpo físico da obra.
Esses "ecos gráficos" se tornam visíveis a partir da repetição em duas ou três
cores combinadas - geralmente utilizando o preto, o vermelho e o tom metálico,
sobrepondo-os com a finalidade de provocar um efeito de instabilidade visual.
Essa instabilidade acaba por corromper além dos sentidos, os significados,
gerando vários planos e um efeito de profundidade vertiginoso.
Dialeticamente, o trabalho de Zardo aborda tanto a função poética quanto a
função referencial, como também fala do dado concreto e do imaterial - é
documento íntimo e ficção frenética, exposto de maneira rápida, nervosa,
acelerada, pois acima de tudo é seriado e contemporâneo por excelência.
Por fim, durante a inauguração da exposição, o artista irá realizar uma
performance na qual, sentado à mesa num canto da sala, autenticará seus
cartazes para o público, resgatando com esse gesto, a ideia de nomeação
conceituada por Marcel Duchamp, e nesse contexto de obra pronta para
consumo, não seriam os cartazes de Marcio Zardo também uma espécie de
readymades?
Renata Gesomino.
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ.
17/09/10.
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