terça-feira, 15 de março de 2011

Fernando Burjato Exposição na Galeria Virgílio

Fernando Burjato  Exposição na Galeria Virgílio

telefone da galeria: (11) 2373 - 2999.

Um abraço,
Fernando Burjato


Fernando Burjato
A Galeria Virgílio apresenta exposição individual de Fernando Burjato. A abertura será no dia 15 de março, a partir das 20:00h.
Fernando Burjato nasceu em 1972 em Ponta Grossa, PR, e se formou em 1994, pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em Curitiba. Vive em São Paulo desde 1996.
Participou de mostras individuais na Galeria Casa da Imagem (Curitiba) e Sala Recife (ambas em 2010), na Galeria Virgílio (2009), no Centro Universitário Maria Antonia (2002), no Memorial da Cidade de Curitiba (1998), no Centro Cultural São Paulo (1996), assim como de diversas exposições coletivas, desde 1991.
Em 2000 publicou o livro de contos Cabeça, corpo, caveira e alma, pela Bom Texto Editora (RJ). Em 2010, lançou o livro Arte brasileira nos acervos de Curitiba (editora Segesta), escrito juntamente com Daniela Vicentini.
A EXPOSIÇÃO
Nesta segunda mostra individual do artista na Galeria Virgílio serão exibidas em torno de vinte pinturas, realizadas entre 2009 e 2011, em tinta a óleo sobre diferentes suportes: telas, placas de resina, MDF, chapas de metal galvanizado.
As pinturas, abstratas, de tamanhos muito variados (a maior, mede 145 x 160 cm, e a menor, 15 cm de diâmetro), são compostas por sucessivas camadas de tinta – em alguns casos, mais de cem. Com frequência, a tinta extrapola os limites do suporte e transborda, criando rebarbas e dando aos quadros contornos irregulares.
As obras em sua maioria apresentam faixas verticais de cores luminosas, às vezes fluorescentes, que criam dissonâncias ou expansões. Nessas pinturas, degradês, áreas monocromáticas e coágulos de tinta convivem com referências ao abstracionismo norte-americano e ao concretismo brasileiro, construindo, às vezes com ironia, um comentário sobre a tradição da pintura.
SERVIÇO
Fernando Burjato
De 15 de março a 09 de abril de 2011
Abertura dia 15 de março, a partir das 20:00h
Galeria Virgílio
De segunda a sexta, das 10 às 19h – sábados e feriados, das 10:00 às 17h
Rua dr Virgílio de Carvalho Pinto, 426
CEP 05415-020 São Paulo, SP
(11) 3061-2999

A terceira imagem

 

As coisas têm suas verdades. E vontades. Parece assim. Aqui elas já tinham até nome. Um outro[1]. Mas foram teimando, teimando e, ao fim, afirmaram o desenho que queriam. Tal qual um personagem cismador, nunca dado à loucura, que manda fazer um barco em que só cabe a si e se lança pra dentro do rio perto de casa. Larga mulher, filho, filha: tudo. Vai e não vai – e não volta. Permanece pelas cercanias, aqui e ali, morando no rio, entre uma margem e outra, sem jamais pisar novamente em chão ou capim. A filha casa, tem filho e vai embora. A mulher envelhece e se vai pra perto da filha. Só fica o filho. Perto e distante do pai. Sem paz. Tampouco o pai. O filho a perguntar se o pai os amava. Se os amava, por que o abandono? Se não, por que não os deixava? 

 

Começo pela aparência. É por onde se começa. Rosa, azul, amarelo e verde. Podem ser outras cores. E são. Na maior parte das vezes a composição desfila alguma extravagância. As cores se aprumam em faixas sem perseguir perfeição: brotam das tintas borrões e detritos. E tem o dégradé. Em algumas telas as faixas se inclinam, como se tivessem perdido seu ponto de equilíbrio. Também avançam, não respeitando o caráter físico das bordas do quadro. Seguem para além desses limites, estruturadas somente na complexão da tinta, que é precária, para finalizar franjas: áreas algo esfarrapadas.

 

As coisas vêm de algum lugar. De onde vem essa aparência? Embora tanta história passada, a disposição não se aninha tranquilamente no interior dos contornos da arte. Há o desconforto do que ainda se ajeita. De quem acabou de aportar. Não são cores inteiramente abstratas, se fossem o problema não se daria, já que essas são incontestes moradoras. A apresentação dessas telas acusa algo estrangeiro, sinais que referem a outra estirpe, ainda que de forma embaçada. Desconstruídos, recolhidos isoladamente, os aspectos reportam com mais nitidez sua natureza. Delatam uma condição tomada como enjeitada, proveniente de experiências travadas em territórios alheios à arte. É lá que se espelham as combinações de cores, o acabamento negligente, a desfaçatez, o humor e a mordacidade.

 

No jogo da arte, e a arte é um jogo, o decisivo, afirma o filósofo Hans-Georg Gadamer, "não é a realização de algo feito, mas o fato de aquilo que é feito possuir uma peculiaridade particular[2]". O território que abriga a arte tem demarcações precisas, capazes de possibilitar a distinção de suas realidades de outras relativas a outros âmbitos. Todavia, os eventos artísticos, no momento de sua realização, afrouxam e distendem essas demarcações na forja de novos acontecimentos – tais eventos são considerados arte justamente por promoverem essas distensões. Em seus lances mais ousados essa forja reclama com vigor a intervenção de experiências pertinentes a outros mundos, de ordens que ocupam territórios distintos; experiências que são processadas e, ao fim e ao cabo, resultam em novas áreas de pertencimentos. Incorporadas, as travas são esquecidas, o esforço de colocá-las ali – algo que se dissipa e com o tempo – só se percebe pela satisfação e merecimento. E se as realizações exigem esforço para remontar os elementos da tradição que dela participam, que se dirá daqueles elementos oriundos do estrangeiro. Ainda assim, não seria o caso de um empenho analítico atentar a essa existência? Não diminui em nada a envergadura da obra de Henri Matisse reconhecer que muitas das inovações formais ali promovidas foram disponibilizadas por seus conhecimentos de padronagem têxtil. Matisse era criança quando sua família mudou-se para a pequena Bohain-en-Vermandois, uma comuna francesa na região da Picardia – onde viveu até os 21 anos – que ficou conhecida pelos tecidos luxuosos e de alta qualidade que produzia. Os ancestrais de Matisse foram tecelões por várias gerações e sua mãe era uma especialista em seleção e preparação de cores, além de administrar um pequeno comércio que atendia as pequenas indústrias locais. De mais a mais Matisse sempre reconheceu isso, trazendo essa presença inúmera vezes em suas telas e mantendo uma grande coleção de tecidos, à qual se referia como "biblioteca de trabalho".

 

Nas telas de Fernando Burjato a experiência forasteira aparentemente pertence a um ambiente bastante próximo e, ainda assim, muito distante do território da arte. Um âmbito que abriga os seus excluídos atuais: por erro, falta de gosto, extravagância, grossura, ironia, perversidade, mau gosto, etc. Uma circunvizinhança que, na falta de outra denominação, designamos como kitsch. E se encontramos essa posição de proximidade, tal ocorre, friso: não há qualquer pontuação negativa nisso, porque a atividade artística em seu curso permitiu isso. Próximos[3] entre si, as qualidades enfatizam pontos de convergência com potência capaz de fazer jogar as suas diferenças. Burjato explora as proximidades e distâncias descortinadas entre esses dois termos; em movimentos que se apresentam plenos de ambiguidade. Ora embaça a presença desse outro. Ora o revela. Em alguns trabalhos a tradição se faz mais evidente. Em outros toma formas mais largadas. Mais que isso: a presença do par é investida de circunstâncias diametralmente opostas. Determinados trabalhos guardam algo derivativo do Moderno. Já outros se alinham a perfis ditos Pós. O certo é que tanto lá quanto cá a aderência a proposições já marcadas não se mostra mais sólida. Haveria aqui algum erro de cálculo?

 

A esta altura torno à cena da narrativa inicial. A dúvida que perpassa o filho não tem como ser vencida. Guimarães Rosa compõe a estória dotada de uma configuração híbrida. A estrutura moderna do conto comporta elementos da urdidura clássica. Uma das margens dispõe de visibilidade, enquanto a outra se conserva absolutamente oculta. Entretanto é certo que a permanência no rio é clivada por uma ordem de desejos ancorados em cada uma das margens. Desejos que vão encontrar na figura dessa personagem seu estado de proximidade extremada. Talvez ele também ame algo que se posta lá. Talvez para que ele continue amando o que aqui está, algo de lá deva estar aqui. Talvez. Assim, só lhe resta procurar uma margem comum a ambas, ainda que distante das duas.

 

Diversamente dos marcos da história clássica, a contemporaneidade coloca em cena todas as suas facetas; expõe a tudo, até de modo promíscuo. Ainda assim não torna as coisas mais fáceis. Decisões ainda devem ser tomadas. E são tomadas assentes sobre nossas experiências. Uma tela é um campo de decisões. E de experiências. Fernando sabe bem a espécie de território que se apresenta diante dele. Sabe o peso dessa história e de suas conquistas. Também sabe que isso pouco vale para a sua continuidade se a jurisdição não se abrir, não se mantiver atual, promover novos pertencimentos. Conta somente ao passado. Sabe também, assim presume-se, que a história da arte antes de ser uma esfera do pertencimento é a da exclusão. Ela previamente distingue e depois joga com o que ela mesma excluiu. Distingue arte de outras culturas e joga com elas: Arte da atividade industrial. Arte da cultura popular. Arte da cultura de massas. Arte da pornografia. Só o que se encontra excluído pode vir a pertencer. A condição contemporânea nos coloca na condição de observadores privilegiados. Vemos a ocorrência e o que se passa ao redor e ao redor do redor. Não dispomos mais unicamente de um ponto fixo que crê que a tudo abrange. Mais de múltiplas, incontáveis, percepções particulares. Fernando vive tudo isso. Sendo assim, só lhe cabe arriscar em águas turbulentas, justamente onde a exclusão e o pertencimento dispõem seus limites, à cata de um ponto onde este e aquele se fazem em comum e se conciliam: na verdade de um outro.  

 

Marco Silveira Mello

 

Fernando Burjato
Ponta Grossa, PR, 1972
Formado em Pintura pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em 1994.
Exposições individuais
2011 Galeria Virgílio, São Paulo;
2010 Pinturas, Galeria Casa da Imagem, Curitiba;
2010 Guaches e Óleos, Sala Recife, Recife;
2009 Galeria Virgílio, São Paulo;
2004 Cartesiano como o diabo, Museu da Gravura da Cidade de Curitiba;
2002 Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo.
1998 Memorial da Cidade, Curitiba;
1996 Centro Cultural São Paulo, São Paulo.
Principais exposições coletivas
2011 Exposição coletiva dos artistas representados pela galeria – Galeria Virgílio, São Paulo;
2009 Múltiplos e pequenos formatos – Galeria Virgílio, São Paulo;
2009 Houston, we've had a problem – Galeria Casa da Imagem, Curitiba;
2008 br 2008 – Galeria Virgílio, São Paulo;
2008 X Salão Nacional Victor Meirelles, Florianópolis;
2008 Galeria – Galeria Virgílio, São Paulo;
2007 Exposição de Parede – Galeria Virgílio, São Paulo;
2007 62º Salão Paranaense, Curitiba;
2007 Matéria Opaca, Museu Murillo la Greca, Recife;
2005 NANO intervenção, Ateliê Eliane Prolik, Curitiba;
2004 A matriz e a linguagem ; Biblioteca Córdoba. Córdoba, Argentina;
2004 Fernando Burjato e Rodrigo Cunha – dois jovens pintores brasileiros, CEU Alvarenga, São Paulo, SP;
2004 NOME – Casa Andrade Muricy, Curitiba;
2003 Incursões – ECOMUSEU, Foz do Iguaçu, PR;
2001 EMCONTRA – Fernando Burjato, Fábio Noronha e Gabriele Gomes, Solar do Barão, Curitiba;
2001 Vertical – Fernando Burjato e Adalgisa Campos, Adriana Penteado Arte Contemporânea, São Paulo;
2000 XII Mostra da Gravura Cidade de Curitiba;
2000 57º Salão Paranaense, Curitiba;
2000 VII Salão Nacional Victor Meirelles, Florianópolis;
1997 VI Bienal Nacional de Santos;
1995 15º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte, Rio de Janeiro;
1994 A Fala – Fernando Burjato, Gabriele Gomes e Cleverson, Galeria do Inter, Curitiba;
1994 10º Mostra do Desenho Brasileiro (referência especial), MAC/Curitiba;
1992 Arte Emergente do Paraná, Funarte, Rio de Janeiro;
1991 48º Salão Paranaense, Curitiba.
Livros publicados
2000 Cabeça, corpo, caveira e alma (contos). Rio de Janeiro: Bom Texto Editora;
2010 Arte Brasileira nos Acervos de Curitiba (escrito junto com Daniela Vicentini). Curitiba: Segesta.

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