IDENTIDADE E DIVERSIDADE NA ARTE CONTEMPORÂNEA DA BAHIA E ANGOLA
Individual do angolano Kiluanji Kia Henda, selecionado para a 29ª Bienal de SP, é aberta junto com coletiva de importantes artistas contemporâneos da Bahia, como Marepe e Caetano Dias
KILUANJI KIA HENDA | galeria SOSO arte contemporânea africana
SEGUNDA PONTE | espaço SOSO+
[com Adriana Araújo, Caetano Dias, Glauber Rocha, Ieda Oliveira, Maxim Malhado, Marepe, Sarah Aleluia e Virgínia de Medeiros]
abertura | dia 19 de agosto 2010 [quinta] |18h >> 22h
A força e a criatividade da arte contemporânea produzida em Angola e na Bahia são pela segunda vez apresentadas juntas em São Paulo. A iniciativa busca atualizar o imaginário nacional sobre estas duas produções, rompendo com estereótipos e apresentando a diversidade presente nos trabalhos de seus artistas. No próximo dia 19 de agosto (quinta-feira), a partir das 18h, o angolano Kiluanji Kia Henda abre sua primeira exposição individual na galeria SOSO arte contemporânea africana. Considerado um dos fotógrafos africanos mais importantes de sua geração, Kiluanji é um dos três artistas representantes de Angola na 29ª Bienal de São Paulo. Ele expõe na galeria ao mesmo tempo em que, no espaço SOSO+, artistas da Bahia participam da coletiva Segunda Ponte. Trabalhos de Adriana Araújo, Caetano Dias, Glauber Rocha, Ieda Oliveira, Maxim Malhado, Marepe, Sarah Aleluia e Virgínia de Medeiros reforçam e valorizam uma identidade que é genuinamente baiana, justamente porque mestiça, miscigenada, resultante da mistura entre as culturas indígenas e européia, mas sobretudo africana.
A exposição inédita de Kiluanji é a segunda de uma série de individuais que a SOSO vai montar com os três artistas angolanos que participam da Bienal de São Paulo. Antes, em julho, foi a vez de Yonamine e, em setembro, será o momento da exposição de Nástio Mosquito. Já a Segunda Ponte dá continuidade ao projeto 3Pontes_SP, que através da parceria entre a SOSO arte contemporânea africana e a Fundação Sindika Dokolo vai apresentar na capital paulista uma mostra dos trabalhos dos artistas baianos que participarão da II Trienal de Luanda, realizada pela Fundação Sindika entre setembro e dezembro deste ano.
A inauguração das mostras de Kiluanji Kia Henda e da Segunda Ponte é aberta ao público e a visitação das duas exposições acontece até o dia 18 de setembro, de segunda a sexta, das 11 às 19h, e aos sábados das 11 às 17h na galeria SOSO e no espaço SOSO+, respectivamente.
KILUANJI KIA HENDA
Kiluanji Kia Henda nasceu em 1979 e pertence à nova geração de artistas angolanos, que já possuem uma representativa carreira internacional. Nos últimos anos, ele participou de importantes mostras como a Bienal de Veneza e a Trienal de Luanda (ambas em 2007), a Trienal de Guangzhou (2008) e a Bienal de Bordeaux (2009). Também realizou residências artísticas em países como África do Sul, Itália, EUA, Alemanha, Quénia e também aqui no Brasil.
Para a exposição na galeria SOSO (lê-se Sôsso), o cartão de visita fica por conta do tríptico em grande formato "Un Recuerdo para Ti", apresentado pela primeira vez na Trienal de Guangzhou e que, em junho deste ano, teve uma versão exposta na mostra "Tudo o que é sólido dissolve-se no ar: o social na Coleção Berardo" em Lisboa. Nesta obra, a dualidade se torna evidente, traz imagens de uma memória inventada, referências históricas que nos remetem ao período colonial. Segundo a crítica de arte portuguesa Marta Mestre: "(...)uma evocação, espécie de momento da ida de um angolano à Rússia. "
A exposição conta ainda com o tríptico "Numbers" e dois dípticos da série mais recente do artista, intitulada "6 Portraits About Apocalipse". Nesta produção, fica evidente o instigante contraponto que Kiluanji propõe entre uma visão futurista, presente em sua narrativa, e o que ainda é tradição. Uma visão onde tecnologia, informação e evolução industrial surgem como um fenômeno dos tempos modernos, e onde o tradicional, por si só, vai deixando de ser um traço exótico na sociedade africana.
O confronto entre o conhecimento histórico e o estado atual da sociedade angolana permeia toda a obra de Kiluanji. Nascido e crescido numa cidade dividida por uma guerra não declarada e de formação autoditada, ele iniciou seu trabalho com fotografia nos anos 90, como assistente do fotógrafo sul africano John Liebenberg, conhecido por retratar os conflitos raciais d urante o regime de Apartheid da África do Sul. Através da fotografia, Kiluanji registra sua cidade natal, Luanda, os conflitos em Angola e os resquícios da Guerra Fria e Guerra Civil, impasses da atualidade numa complexa diversidade de perspectivas.
Kiluanji busca levar os espectadores a refletir sobre a contemporaneidade e seu reflexo nas sociedades, como as alterações dos hábitos e costumes que ocorrem a todo instante, as novas trocas comerciais, ou ainda a implantação de novos elementos da globalização na paisagem. Num estilo experimental, com ironia apurada, conjuga a linguagem da foto-reportagem com a da fotografia conceitual. Nos últimos anos, o artista vem também explorando a música e o teatro.
SEGUNDA PONTE
A Segunda Ponte é parte de um projeto maior, o 3PONTES, que integra a II Trienal de Luanda e, a convite da Fundação Sindika Dokolo, tem curadoria de Daniel Rangel, diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Ao todo, o projeto levará o trabalho de 20 artistas contemporâneos baianos a Luanda, fortalecendo um processo de trocas e intercâmbio cultural entre Angola e Bahia. Em São Paulo, a Fundação Sindika firmou parceria com a SOSO arte contemporânea africana para apresentar uma mostra dos trabalhos que serão apresentados na II Trienal, surgindo assim o 3PONTES_SP.
O 3PONTES tem como eixo curatorial três momentos diversos da interação entre a África e a Bahia, correspondentes a períodos históricos. A Primeira Ponte se relaciona com o começo desta relação, à era da escravidão e do tráfico negreiro, entre os séculos 16 e 19. A mostra, que foi responsável pela inauguração do novo espaço SOSO+, em frente à galeria SOSO, foi aberta junto com a exposição de Yonamine, no dia 02 de julho, data da Independência da Bahia (1823), apresentando o trabalho de sete artistas baianos que utilizam linguagens contemporâneas para expressar a forte influência da cultura africana. Mais de 1.100 pessoas visitaram esta mostra, que fica em cartaz até o dia 14 de agosto (sábado).
Agora, é a vez da Segunda Ponte, que corresponde à retomada das relações entre África e Bahia, do final dos anos 40 e início da década de 50, período de grande efervescência cultural em Salvador, até o ano de 1964, quando é interrompido bruscamente pelo golpe militar. Neste intervalo, chegaram da Europa artistas e intelectuais como o fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger- que morando em Salvador desde 1946, faz inúmeras viagens à África e se torna um dos principais estudiosos da cultura africana e de sua influência na Bahia - e o pensador português Agostinho da Silva, defensor da união dos países de língua portuguesa e criador, em 1959, do Centro de Estudos Afro Orientais (CEAO), na Universidade Federal da Bahia (UFBA), primeira instituição brasileira encarregada de manter laços com a África.
A convite do então reitor da UFBA, Edgar Santos, também fizeram parte deste importante momento, denominado pelo historiador Antonio Risério de "avant garde na Bahia", nomes da vanguarda européia de diversas áreas das artes, como os compositores nórdicos Koellreutter e Walter Smetak, a dançarina russa Yanka Rudzka e a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, responsável pelo projeto de reforma do Solar do Unhão e primeira diretoria do Museu de Arte Moderna da Bahia.
Esta ebulição intelectual e cultural que toma conta de Salvador se baseia na noção de uma brasilidade ligada à mistura cultural. E foi Lina Bo Bardi uma das principais visionárias da originalidade dos brasileiros. Ela foi encontrar no interior, em artefatos populares, um design peculiar, próprio, que é extremamente identitário, e também revelador de uma estética autoral, inovadora. Foi Lina quem primeiro percebeu na cerâmica, no trabalho em madeira e nas peças produzidas no recôncavo baiano a partir da reciclagem de materiais o que existia de mais contemporâneo na produção artística da Bahia e do Brasil (não à toa, ela projetou a famosa escadaria do Museu de Arte Moderna da Bahia inspirada nos "carros de boi" que registrou em suas viagens).
Os artistas da Segunda Ponte trazem esta questão, da força de uma identidade extremamente baiana aliada a um cerne de contemporaneidade. É assim com Marepe, por exemplo, que continua morando no interior, em Santo Antonio de Jesus, cidade do recôncavo baiano, mas produz obras que são expostas em grandes centros internacional de arte, como o George Pompidou, em Paris
Os artistas da Segunda Ponte mostram em seus trabalhos o reflexo deste processo, de construção da identidade baiana. Um movimento encontrou no interior, no recôncavo, na cerâmica e no design popular, a influência da cultura africana em relação com nossas outras raízes, indígena e européia. "Numa metáfora possível, se na Primeira Ponte o exercício da busca da identidade baiana consistia em olhar para o mar, para o outro lado do Oceano, em busca da Mãe África, na Segunda Ponte voltamos o olhar para o interior do Brasil, também em busca desta identidade", afirma Daniel Rangel. "A estética africana é muito forte e é justamente esta estética que foi mais estereotipado na relação entre cultura baiana com a africana. Os artistas da Segunda Ponte rompem com este estereótipo, ao fundir estas duas identidades, acrescentando a ela os elementos das outras culturas presentes na formação cultural de povo brasileiro", finaliza.
Por fim, a Terceira Ponte traz um olhar especial para as aproximações existentes entre a África e a Bahia na contemporaneidade. O trabalho de seus artistas, que realizam intervenções urbanas nas mais diferentes linguagens, será apresentado em São Paulo somente depois da experiência de residência em Luanda, na ocasião da II Trienal.
ARTISTAS DA SEGUNDA PONTE
Marepe (1970, Santo Antonio de Jesus - BA)
Com extenso currículo de exposições dentro e fora do Brasil, é hoje um dos artistas mais importantes de sua geração e o baiano de maior reconhecimento internacional, tendo participado de diversas exposições e eventos de artes como a Bienal de Veneza e a Bienal de São Paulo. Também já expôs na Tate Modern de Londres e no Centro George Pompidou, em Paris. Sua obra tem como referência tradições populares e objetos do cotidiano da Bahia.
Caetano Dias (1959, Feira de Santana - BA)
Considerado pela crítica nacional como um dos mais importantes artistas surgidos nos últimos anos na Bahia, trabalha com diferentes suportes e técnicas, como vídeo, pintura, obras tridimensionais, instalação multimídia e fotografia digital. Sua obra transita entre o sagrado e o profano, o íntimo e o público, em um intrincado jogo de significações. Participou da Bienal de Buenos Aires e expôs em Nova York, Paris, Havana, além da Venezuela, Equador e Espanha. No Brasil, realizou exposições individuais em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Santos e Curitiba, entre outras cidades, e ganhou prêmios como os do VII Salão da Bahia – Museu de Arte Moderna – Salvador/BA (2001).
Virginia de Medeiros (1973, Feira de Santana – BA)
Vive e trabalha entre Salvador e em São Paulo. Do começo de sua produção, em 1995, quando utilizava tintas, lonas, pincéis e chassis, passou recentemente a utilizar diferentes linguagens artísticas, predominando as vídeoinstalações. Em 2003, foi contemplada com a Bolsa Vitae, com a qual produziu obras que expôs no Rumos do Itaú Cultural (2005-2006) e na 27ª Bienal de São Paulo. Participou de exposições coletivas na Galeria Vermelho, São Paulo (2008), no Paço Imperial, Rio de Janeiro, no Instituto Dragão do Mar, Fortaleza (2006); em Recife e em Porto Alegre (2002); no Museu de Moderna Arte da Bahia, em Salvador (2001); entre outras. Em 2009, fez residência artística em Dili, Timor-Leste, e, em 2007, expôs em Québec, Canadá, o resultado da sua participação no programa de intercâmbio cultural entre o Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, e o Centro de Artes La Chambre Blanche. É Bacharel em Artes Plástica e Mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia.
Ieda Oliveira (1969, Santo Antônio de Jesus – BA)
Com uma poética voltada para coisas simples do cotidiano, desde 1994 vem participando de várias mostras nacionais e internacionais. Realizou exposições individuais em Berlim, Munique e Siegburg (Alemanha), além de ter participado da 26ª Bienal Internacional de São Paulo e da III Bienal do Mercosul. Fez residências artísticas na Taipei Artist Village (Taiwan), na Kunstlehaus de Hamburgo (Alemanha), entre outras. É bacharel em Artes Plásticas pela Escola de Belas Artes da UFBA e Mestre em Artes Visuais pela mesma universidade.
Maxim Malhado (1967, Ibicaraí - BA)
Começou a expor em1995. Em seu trabalho, propõe que o olhar do visitante se volte para a poesia nua do dia a dia. Participou de diversas exposições coletivas, entre as quais destacam-se o Rumos Itaú Cultural (edição 2001 e 2003); Salão Nacional de Arte do Pará (2003); o Salão Nacional de Goiás (2001) e a 24ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo (2004).
Adriana Araújo (1977, Salvador – BA)
Com um trabalho intimista e delicado, na utilização da cerâmica, explora as diferentes possibilidades artísticas deste material, realizando pinturas em porcelana, esculturas e instalações. É graduada em Artes Plásticas pela Universidade Federal da Bahia (2005) e em Licenciatura Plena em Educação Artística pela Universidade Católica do Salvador (2002). Atualmente faz especialização em Arte-Educação – Cultura Popular e Linguagens Artísticas Contemporâneas. Recentemente, participou de um programa de residência artística na Austrália, com o apoio do Ministério da Cultura e venceu o Prêmio Matilde Matos, da Fundação Cultural do Estado da Bahia (2007). Participou de coletivas em Salvador, São Paulo e na Alemanha.
Sarah Hallelujah (1979, São Paulo - SP)
Morando e produzindo em Salvador, graduou-se na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 2004. Trabalha com diversas técnicas, com destaque para a cerâmica e a fotografia. Desde 1999, vem realizando exposições individuais e coletivas, tendo sido premiada em 2008 , no Salão de Artes Visuais de Itabuna, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFBA e desenvolve uma pesquisa em Processos Criativos, intitulada "Objetos à Deriva – uma poética da perda e da transformação".
Glauber Rocha (1939, Vitória da Conquista – BA | 1981, Rio de Janeiro - RJ)
Um dos mais importantes cineastas do Brasil, Glauber fundou um movimento reconhecido e respeitado em todo o mundo: o Cinema Novo. Produziu e pensou o cinema, escrevendo livros e fazendo filmes com uma proposta de arte engajada. Sua crítica social feroz se aliava a uma estética própria, inovadora, que pretendia cortar radicalmente com o estilo importado dos Estados Unidos em busca de uma linguagem cinematográfica genuinamente brasileira, latino-americana.
FONTES
Mario de Almeida – proprietário da galeria SOSO arte contemporânea africana
Daniel Rangel – Curador do projeto 3Pontes e diretor de Museus do IPAC/Bahia
E os artistas através das assessorias.
ASSESSORIA DE IMPRENSA
SOSO arte contemporânea africana – Rodrigo Linhares: 11 32223973
3PONTES - Ana Paula Vargas: 71 3117 6445/ 71 9995 9593
SERVIÇO
O que: exposições Kiluanji Kia Henda e Segunda Ponte [com Adriana Araújo, Caetano Dias, Glauber Rocha, Ieda Oliveira, Maxim Malhado, Marepe, Sarah Aleluia, Virgínia de Medeiros]
Quando: abertura dia 19 de agosto 2010 [quinta], das 18 às 22h. Visitação até o dia 18 de setembro, de segunda a sexta, das 11 às 19h, e aos sábados das 11 às 17h.
Onde: galeria SOSO arte contemporânea africana (Av. São João, 313, 2º andar, Centro, SP) e espaço SOSO+ (Av. São João, 284, Centro, SP).
Entrada gratuita
De: Sofia Woolf <sofia@sosogaleria.com>
Data: 18 de agosto de 2010 12:13
Assunto: Release expo na Galeria SOSO/ Kiluanji e Segunda Ponte
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